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Gosto de nostalgia.

Bom, eu fiquei confusa.
Sou imprevisível, sabe? Eu simplesmente mudo de opinião do nada.
Comecei a me sentir promíscua, suja, vazia...
Vagabunda!, Eu gritava ao me ver no espelho.
Quem era aquele homem?, ou melhor, o que aquele homem virara? Será que o meu envolvimento com ele seria sadio? Será que eu deveria mergulhar nessa aventura?
Era nisso que eu pensava enquanto ia para casa naquela madrugada. Mas, droga!, olhei pro ceú e vi... a lua. Estava ali, meia-lua. Linda e perigosa. Arma indireta. Exigente. E me transformei.
O cheiro não vinha de longe. Era uma garota, eu sentia. Jovem. E, pela velocidade da sua respiração, ou estava com medo, ou estava cansada; ou os dois, enfim. Coloquei luvas, eu sempre as tenho comigo.
Fome.
Em alguns segundos já a segurava pelos cabelos.
Fome exagerada.
Tanto que nem procurei dizer um oi, dar boa noite.
Fome, tanta fome.
Que lhe agarrei pelo pescoço e o quebrei. Depois cortei seu braço esquerdo e o mordi ferozmente. Mas o braço matou minha fome e só aí me dei conta de como eu fôra monstruosamente malvada. Foi só um braço por uma vida. Um braço que viveu, que tantas vezes abraçou, apoiou, forçou, protegeu. E agora, era só carne.
Aquela menina ali, cara de uns 12 anos, sangrando num beco, sem braço. E eu imunda de sangue querendo voltar no tempo. Resolvi revistá-la. Ela tinha uma bolsa, uma carteira. Em seus documentos vi seu nome. Margot Jordani Bello. Aquele sobrenome não me era estranho. Será que ela era minha aluna?
Chuva.
Perfeito, era o que eu precisava. Antes de que a chuva engrossasse, pensei. Tirei de minha bolsa um plástico negro grande e uma tesoura. Cortei-lhe os cabelos e arranquei o seu braço direito. Coloquei tudo no plástico e saí. Deixei a garotinha ali, banhada de sangue e de água. Andei rápido, fui sagaz. Como sempre, eu me esquivava e me escondia quando passava alguém. Havia um caminhão estacionado em uma avenida. Coloquei o plástico preto dentro dele, atrás, junto à carga. Mais uma vida estragada, a do caminhoneiro. E, finalmente, tomei um táxi. Afinal, estava hospedada longe dali.
No dia seguinte, Ben, que se chamava Arnold na verdade, apareceu bem cedo a minha porta. Não o havia chamado, nem o endereço, dito. Mas ele era esperto, bem esperto. Não tanto quanto eu, porém, esperto.
- Oi Nick, saudades?
- Você é tão... previsível. Entra aí, mas não se assuste: estou horrível.
- Ah, certo. Quando vou te ver bonita, então? E que pijama é esse, hein?! Assim você me mata.
- Sem brincadeiras com meu pijama de bolinhas, ta?, se quiser continuar aqui... Ta com fome?
- De que?
- Tem fruta na geladeira, se você quiser.
- Tem carne?
- Não, mas meus vizinhos são totalmente inconvenientes, pelo que parece. Se você quiser me fazer o favor...
- Engraçadinha...
- Palhaço...
- Quando você vai embora?
- Só vou tomar um banho e...
- Quer companhia?
- Não. - Tranquei a porta.
Enquanto tomava banho, ele ficou na sala vendo televisão. De repente, começou a aumentar o volume, o que me chamou atenção. O que ele queria que eu escutasse?
- Margot Jordani Bello, 13 anos, 1,46m, loira, olhos castanhos, desaparecida na madrugada de hoje. "Nós havíamos brigado, ela fugiu de casa enquanto eu dormia, mas ainda não voltou. Sei que já era para ter voltado. Ela sempre faz isso, sempre foge, e sempre volta uma hora depois, por brigas até mais graves. Se alguém a vir peço, por favor, que tente entrar em contato..." Diz o detetive Kevin Jordani Bello, pai de Margot. A polícia ainda não tem nenhum sinal da menina, mas...
Droga! Televisão? Filha de detetive? E logo de Kevin JB? JB, sim, eu o conhecia. Havíamos estudado juntos por muitos anos. O que a vida reservava para mim? Primeiro Arnold, agora Kevin.
Saí do banho naturalmente.
- Você ouviu aí? Era o velho JB. Não é que ele enriqueceu? Virou 'detetive.' Han, eu não dava nada por ele. A filha dele sumiu, né? Que peninha.... que peninha de quem a sequestrou.
- Sequestraram-a? Como foi isso?
- Você não ouviu?
- Não.
- Nada?
- Nada.
- Bom, deu no jornal que a raptaram. Que só foi o pai vacilar, que ela correu pruma rua escura e sumiu. Não tinha como ela sumir, né? O JB ainda viu a silhueta da pessoa, mas ele não comentou. Só disse que já está bem próximo de encontrar... sei lá. Você não tem nada a ver com isso não, né?
Idiota! Que mentira! Não falaram nada disso. Ele queria me amedrontar? O que será que ele pretendia? Será que andou me seguindo de novo?
- Claro que não, ontem eu estava com você, lembra?
- Mas foi de madrugada.
- De madrugada? E o que o JB fazia a pé com a filha de madrugada? Muito esquisita essa sua história. Eu hein...
- Deu no jornal, ué.
- Hum... deixa pra lá. Não temos nada a ver com isso.
Fomos embora. Um para cada lado. Nos despedimos com um beijo e, antes de ele virar completamente as costas, vi um sorrisinho irônico naquela boca vermelha. Ali tinha coisa, ele sabia de algo com certeza.
Cheguei, tirei os sapatos, as roupas, entrei em um roupão e fui para a banheira, eu estava ainda me sentindo suja pela noite anterior, mas, antes de que eu pudesse abrir a torneira, a campainha tocou. Que saco! Arnold não iria largar do meu pé nunca? Fui atender mesmo vestida daquele jeito,cabelos soltos e bagunçados, roupão transparente, e ainda dando um laço com sua fita para me cobrir.
- Arnold, o que você ainda quer?
- Arnold? Não é assim que me chamam...
E não é que era o sr. Jordani Bello ali, a minha frente? Deixei a fita cair. E a boca também.

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